domingo, 17 de abril de 2011

VASOS DE ALABASTRO


Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus. (Marcos 14:3)


Simão, o leproso, não é um nome comum, ainda mais para um fariseu (Lc 7:36), obviamente, identificava o mal que o afligia. Além de sofrimento físico, a lepra traz também a exclusão social, o isolamento, a vergonha e a dor, que não tocam somente o corpo, mas também a mente e a alma. A Bíblia não relata, porém o contexto nos leva a crer que Jesus o tenha curado. A refeição oferecida, possivelmente veio como sinal de gratidão. A casa estava cheia de ilustres convidados, todos escolhidos a dedo pelo próprio Simão (agora não mais o leproso). Entre eles, estava Lázaro (Jo 12:2), um convidado com bastante evidência (Jo12:11) pois Jesus o ressuscitou dentre os mortos após quatro dias de sua morte.


O jantar formal em Betânia ia indo “muito bem, obrigado!”, até o protocolo ser quebrado por uma mulher, que adentrou ao recinto com um pequeno vaso em suas mãos. Era Maria, irmã de Lázaro. Toda atenção se volta para ela, pois com os olhos cheios de lágrimas se aproxima do Mestre e quebra o pequeno vasilhame (Mc 14:3). Imediatamente um cheiro suave se espalha por toda casa. Todos reconhecem: “É Nardo puro!”. A essência de nardo era um óleo perfumado, importado das montanhas da Índia, e por esta razão, era extremamente caro. Mas ela, sem hesitar, despeja todo o conteúdo do frasco sobre a cabeça de Jesus, depois se prostra aos seus pés, molhando-os com suas lágrimas, acarinhando com beijos, e enxugando com seus próprios cabelos. Como declarou Davi no Salmo 51: “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (v. 17).


Esta ação primeiramente incomodou seus discípulos, que criticaram a mulher, julgando que ela havia desperdiçado um grande valor, que poderia ser dado aos pobres (João 12 atribui o comentário apenas a Judas Iscariotes, destacando sua ganância). Depois incomodou Simão, que descrê do ministério profético de Jesus, pois considerava a mulher como uma pecadora, e achava ser inconcebível que um profeta permitisse ser tocado por alguém impuro. E logo a aparente gratidão de Simão se desfaz, pois Jesus coloca em evidência o sentido daquele ato, e diz a mulher: “Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.” (Lc 7:47). O que é um jantar comparado ao puro nardo? – Antes de explorarmos o profundo significado do nardo, precisamos ressaltar o valor do vaso de alabastro. [1]“Esses pequenos vasos de perfume em forma de frascos eram originalmente feitos duma pedra encontrada perto de Alabastron, no Egito. A própria pedra é uma forma de carbonato de cálcio (não devendo ser confundido com o alabastro moderno, sulfato de cálcio hidratado). Usualmente, o alabastro original é branco, mas às vezes contém traços de outras cores, visto que é uma formação de estalagmite”.


Inutilizar o precioso vaso simbolizava o nível de amor, quebrantamento e gratidão de Maria, sem reservas, sem orgulho. O que ela estava oferecendo não tinha mais como retornar, não poderia ser acumulado novamente, ela estava declarando que tudo que possuía pertencia a Cristo e, a partir daquele momento, teria uma vida sem reservas, pois sua confiança estava totalmente em Deus. Todo cristão precisa quebrar esses “vasos” em sua vida, “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt 6:21). O vaso de alabastro era o compartimento para armazenagem, mas um vaso quebrado não pode reter, nem mesmo uma pequenina gota, pois vasos quebrados exalam perfume. “Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem.” (2Co 2:15). Agora Deus derrama sobre nós o seu bom perfume, e nós, vasos quebrantados, exalamos sua fragrância.


O nardo representa aquilo que entregamos, os dons que possuímos, nossas posses, serviços, conhecimento, amizades, apoio... Todos temos “nardo”, algo para ser entregue, cada um conforme o que recebeu (1Pe 4:10). Não são apenas os dons espirituais que devem ser colocados a favor do reino, temos também talentos naturais, que foram dados por Deus, mesmo quem não é cristão recebeu “habilidades”, e, uma vez transformados pela regeneração em Cristo, devemos compartilhar o que temos, sem reservas. Até mesmo um abraço pode fazer toda diferença na vida de alguém. Derrame seu “nardo” como oferta de gratidão!


Há quem acredite que Jesus Cristo foi ungido em duas ocasiões com óleo perfumado. A meu ver, Jesus foi ungido apenas uma vez, pois as narrativas são a mesma, tanto em Mateus 26:6 (estando Ele em Betânia, em casa de Simão, o leproso), como em Marcos 14:3(Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso...), de novo em Lucas 7:36-50 (reparem que Jesus chama o fariseu de Simão, vs. 40-44), e novamente em João 12:1 (“Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus para Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.”) O texto diz que Jesus foi para Betânia seis dias antes da Páscoa, isso não quer dizer que o jantar aconteceu neste mesmo dia. Mas, o que importa mesmo, é que mais uma vez está se cumpre a palavra de Cristo: “Em verdade vos digo: Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua.” (Mt 26:13).


Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. (2Co 2:14).


Ev. Elias Codinhoto








[1] http://bibliotecabiblica.blogspot.com/2009/09/o-que-era-um-vaso-de-alabastro.html