quarta-feira, 23 de abril de 2008

Indiferença

Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca;
Apocalipse 3:16

Certa vez, chegando do trabalho, percebi que meus sentidos estavam aguçados, olhos e ouvidos estavam atentos aos pequenos detalhes do cotidiano. Assim que fechei a porta, senti meu coração batendo, quase podia ouvi-lo dentro de mim: “Tum-dum, Tum-dum, Tum-dum...”. Há muito tempo não sentia minhas pulsações, o corre-corre da vida nos empurra de um lado para o outro, de tal forma que nem nos lembramos ter órgãos internos. Percebia o barulho da louça sendo retirada da mesa, o tapete pendurado no muro da casa, após uma oportuna lavagem em um dia de sol. Podia sentir o cheiro de eucalipto do desinfetante no ar. Ao fundo, ouvia as crianças brincando, mesmo sem vê-las, conseguia imaginá-las dando cambalhotas na calçada da vizinha... Situações corriqueiras, que geralmente se tornam imperceptíveis.
Afinal, o que há de importante nisso? São apenas sons, imagens, cheiros, sensações... O que há de especial nisso? – Não percebe? É a vida! Sua vida!
Qual sua sensibilidade à vida? Todos sabem que Vida é tempo, cada minuto de existência... Isso é Vida! Sua vida!
Em seu poema “O Monstro da indiferença”, Otto Lara Resende descreve: “de tanto ver, você não vê [...] o hábito suja os olhos e lhe baixa a voltagem [...] Há pai que nunca viu o próprio filho, marido que nunca viu a própria mulher [...] Nossos olhos se gastam no dia-a-dia. É por aí que se instala o monstro da indiferença”.
Jesus nos alerta a esse respeito - Uma pequena semente que cai e é sufocada entre espinhos. Na verdade foram três “espinhos”: preocupações, riquezas e prazeres da vida (Lc 8:14). Coisas comuns, o cotidiano de qualquer ser humano, muitas vezes imperceptível, no entanto, vão formando uma espécie de crosta sobre nossos sentidos, nos tornando indiferentes com tudo e com todos a nossa volta. O pai, preocupado com seus afazeres, não dá mais atenção a voz do filho, não percebe a esposa que se preparou especialmente para recebê-lo, nem mesmo sente o sabor do jantar que foi servido.
Há quanto tempo não observa as nuvens? Os pássaros? As flores? Os sons? – E quanto às pessoas a sua volta, estão tristes? Alegres?... – Tem certeza que está vivo?
Como disse o poeta: “de tanto ver, você não vê”, as coisas se tornaram tão comuns que já não damos atenção. A mesma vizinhança, os mesmos amigos, o mesmo serviço, a mesma família, o mesmo Deus... Op’s!? – Será que podemos fazer de Deus algo comum para nós? – Deus sabe que sim, por isso deixou este mandamento: “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Ex 20:7 e Dt 5:11). Tornar vão é fazer comum, sem importância. Deus sabia que por muito se repetir, ou usar seu Nome em qualquer situação, poderíamos torná-lo comum para nós. Para alguns, ser cristão se tornou comum, perdeu o sentido, como se estivesse em piloto automático, vai aos cultos, lê a Bíblia, faz orações... Mas não há sentimento nisso, perdeu o brilho, deixou o primeiro amor (Ap 2:4). “Tornas vão o temor de Deus e diminuis a devoção a ele devida” (Jó 15:4). O apóstolo Paulo nos adverte em 2 Coríntios 6:1: “E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus”.
Não seja indiferente! Aprecie cada segundo de sua vida, valorize as pessoas a sua volta, olhe nos olhos, ouça, veja, sinta. Não vá a igreja só por ir, esteja atento, creia que Deus falará com você! Afinal: “tudo é possível ao que crê” (Mc 9:23).

“O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10).

Juliana e Elias Codinhoto.